quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Abbas Kiarostami: A Arte de Viver' revisita a obra do cineasta

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHATalvez não haja exagero em dizer que Abbas Kiarostami é o mais importante cineasta contemporâneo. Ele parece trazer em seus filmes todo o cinema moderno, de Rossellini a Rohmer, de Hitchcock a Ozu.
No entanto, Abbas é o cineasta que se apaga, que, apesar da absoluta pessoalidade, não quer ser autor. Ou melhor: encerra o ciclo do "autor de cinema" sendo mais autoral do que ninguém.
Explica-se o paradoxo: Abbas é o cineasta que se retira, que faz da tela um lugar onde o espectador se reflete. Um espelho, em suma: na tela, ele verá precisamente aquilo que ele próprio projeta.
O documentário "Abbas Kiarostami, A Arte de Viver" (Cultura, 22h) trata de sua arte, com a ajuda de entrevistas de vários críticos e produtores.
Fonte: Folha, 28.11.2013

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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Blue Jasmine, de Woody Allen, concentra numa personagem as ilusões do mercado financeiro

Conheço gente que, em especial depois da crise de 2008, tornou-se fundamentalista em matéria de investimentos financeiros. "O que você faria?", perguntam. "Apostaria de novo todo o seu dinheiro em papéis e impulsos eletrônicos?"
Recomendam que se compre ouro. O velho metal amarelo é confiável há pelo menos 10 mil anos. O resto, com a possível exceção dos imóveis, não passa de fluxos de informação. Promessas de pagamento. Cartas de crédito.
Papeizinhos, em suma, que qualquer governo ou banco, um belo dia, pode rasgar. Pior que isso, bits na tela do seu computador.
Sim, pode haver algo de ilusório em tudo isso. Só que tendo a ser mais radical. O próprio ouro, afinal, concentra menos valor em si do que mitos e crenças. Supondo que valha para alguma coisa além de fazer anéis e obturações dentárias --mas estas já entram em desuso--, nada impede que seu preço desabe em definitivo.
Não entendo nada de finanças, mas já vi muita coisa de Woody Allen, e esses comentários sobre a importância do ouro vêm a propósito de "Blue Jasmine", filme seu que entrou em cartaz recentemente.
Cate Blanchett (aposto meio quilo que ganha o Oscar) é Jasmine (na verdade Jeanette, mas ela trocou de nome), uma mulher grã-finérrima que perdeu tudo num escândalo financeiro. O marido (Alec Baldwin) era um desses magos do mercado que, a exemplo de tantos outros em 2008, manipulavam créditos podres em cima de créditos podres, iludindo milhares de poupadores e vivendo como nababos.
Woody Allen fez um filme bem mais dramático do que de costume. Não entrou, como costuma fazer de modo tão encantador, na fantasia dos seus personagens --caso de "Meia-Noite em Paris", por exemplo.
Aqui, Cate Blanchett e algumas pessoas em volta dela vivem num plano de irrealidade mais ou menos intenso, mas o espectador se mantém a uma distância nítida daquilo que acontece.
A loucura, a ingenuidade, a simploriedade de muitas personagens faz com que o humor não desapareça de "Blue Jasmine", mas a fonte de inspiração para a Jeanette/Jasmine de Woody Allen não poderia ser mais dramática.
Cate Blanchett é uma espécie de nova Blanche Dubois, a delirantemente refinada solteirona de "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams. A exemplo daquela peça dos anos 1940, a grã-fina vai morar na casa da irmã, que tem uma vida pobre, simples, real.
No cinema, "Um Bonde Chamado Desejo" tinha um Marlon Brando belíssimo e brutal no papel do cunhado de Blanche. No filme de Woody Allen, o macho de plantão é Bobby Cannavale, namorado da irmã.
O ser humano, nos filmes de Woody Allen, nunca será tão mau como nas peças de Tennessee Williams. Há muitos patifes, mas não demônios. Há tentação e fraqueza, mas não perversidade.
Talvez isso seja a última ilusão de Woody Allen, que bem ou mal está com quase 80 anos, e não pretendo, de todo modo, fingir que sou mais experiente do que ele. Cada um julga as coisas segundo a própria experiência, e a minha, felizmente, de modo geral não me leva a desmenti-lo.
Nesse gênero de diagnósticos sobre a humanidade, tudo talvez se resuma a rótulos, palavras, papéis assinados ou escritos, tendo como testemunha Rousseau, Kafka, Nietzsche, Deus ou o Diabo.
Crédulo, em todo caso, Woody Allen não é. "Blue Jasmine" concentra na personagem de Cate Blanchett uma capacidade para a ilusão e para a mentira que, no fundo, parece disseminada na sociedade americana --e no mundo todo, por extensão.
Compramos produtos e mais produtos baseados no que nos diz a publicidade, sabendo perfeitamente que os anúncios não correspondem à verdade. As compras são feitas com cartões de crédito, que muita gente usa sem ter certeza de como vai pagar depois.
Parte de toda a dinheirama é, ou pelo menos foi, aplicada em títulos e fundos de investimento, sabe-se lá mais o quê, cujo valor se baseia na promessa de que alguém, algum dia, vai devolver todo o dinheiro, com um bom chantili de juros por cima.
Deu-se o calote, e o governo produz dinheiro para cobrir as perdas gerais; dinheiro no qual todos acreditamos, mas é papel, promessa de pagamento. Nem isso: ficaria louca a autoridade que quisesse produzir, fisicamente, todos os dólares que circulam por aí.
"Confiança" é a palavra mágica, em torno da qual gira a máquina e, com ela, todos os argumentos dos economistas. Não entendo de economia, como já disse; entendo um pouco de palavras, e sei que podem ser substituídas.
Que tal, em vez de "confiança", "credulidade", ou "mentira"? O cinema, como a literatura, produz as suas, claro; mas "Blue Jasmine" consegue dar à ilusão o peso, o lastro em ouro, do real. Vale, pelo menos, o preço do ingresso. Coluna: Marcelo Coelho

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

'O Homem que Comprou o Mundo' toca em temas políticos - Eduardo Coutinho

INÁCIO ARAUJOCRÍTICO DA FOLHA
O Eduardo Coutinho que aprendemos a admirar como um dos maiores cineastas do Brasil não é o da ficção, o de "O Homem que Comprou o Mundo" (Canal Brasil, 9h30).
Mas na história do homem que começa envolto em mil situações equívocas e depois dispõe-se a buscar a liberdade que lhe fora confiscada por mil diferentes caminhos, este "jovem Coutinho" (de 1968, portanto antes de "Cabra Marcado para Morrer") já aborda a seara política (o equívoco, os poderes mundiais, a supressão da liberdade) por caminhos tortuosos.
Certo, ele se mostrará mais desenvolto no futuro. Mas este é um bom momento para rever e reavaliar este trabalho "de juventude", em que Flávio Migliaccio puxa um belíssimo elenco.
Fonte: Folha, 20.11.2013.
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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Questão racial é desafio para filme - 12 years a slave

LOS ANGELES - Visto como favorito para prêmios de cinema, "12 Years a Slave" (Escravo por 12 anos) pode fazer história como o primeiro trabalho de um diretor negro a receber o Oscar de melhor filme. Mas cineastas e executivos estão observando o filme de perto para ver se ele conseguirá superar outro desafio.
"12 Years" quer se tornar uma raridade: um longa-metragem de temática afro-americana a fazer sucesso com o público global. O sucesso internacional é especialmente importante porque hoje as plateias fora da América do Norte são responsáveis por dois terços ou mais das bilheterias dos filmes de Hollywood.
"12 Years a Slave" será beneficiado pelo prestígio internacional de seu protagonista, Chiwetel Ejiofor, e diretor, Steve McQueen, ambos britânicos de nascimento. O filme tem o apoio de divulgadores que o posicionaram em muitos mercados pelo mundo afora, mas, com um cálculo apurado de timing, estão adiando seu lançamento para o início de 2014.
Nesse momento, presume-se que "12 Years a Slave" estará na reta final da acirrada disputa por prêmios, chamando a atenção máxima no momento em que as plateias mundiais se preparam para a entrega dos Oscar.
Essas vantagens, somadas ao poder promocional de Brad Pitt -que é um dos produtores do filme- podem ser suficientes para romper a barreira de mercado.
Grandes astros negros, como Will Smith, podem acumular bilheterias fantásticas no mercado internacional com papéis que não destacam a identidade racial. E pelo menos uma história de interação entre brancos e negros ambientada na França, "Intocáveis", de 2011, virou sucesso internacional.
Mas o mais comum, mesmo no caso de filmes com cacife para serem premiados, é o que aconteceu com "Histórias Cruzadas", lançado em 2011, sobre as provações passadas por empregadas negras no sul dos EUA na era da segregação racial. O filme vendeu quase US$ 216,7 milhões de dólares em ingressos em todo o mundo, mas quase 80% desse total saiu dos Estados Unidos.
Como os westerns e os filmes sobre beisebol, filmes sobre as experiências vividas por americanos negros podem estar distantes demais da realidade das plateias de países que têm poucas ligações culturais com o tema. Mas cineastas negros também reclamam que às vezes as empresas não os apoiam com o mesmo tipo de lançamento internacional amplo que está sendo preparado para "12 Years a Slave", que narra a história de um homem negro livre do século 19 que é sequestrado e vendido para ser escravo.
Stuart Ford, executivo-chefe da IM Global, que vendeu os direitos de distribuição no exterior de outro dos filmes afro-americanos da temporada, "O Mordomo", de Lee Daniels, disse: "Apesar da ideia comum de que filmes afro-americanos não se saem bem fora dos EUA", disse Ford, "um ótimo filme é um ótimo filme, e ótimos filmes estão em falta e são valorizados."
Os criadores de "12 Years a Slave" podem se animar com o destino de "O Mordomo", uma história sobre a luta pelos direitos civis que estreou em agosto e vem tendo desempenho sólido nos mercados internacionais. Ford disse que o filme pode arrecadar US$ 50 milhões, além dos mais de US$ 114 milhões que já faturou nos EUA. Seu orçamento de produção teria sido de mais ou menos US$ 20 milhões.
Stephanie Allain, que foi produtora de "Ritmo de um Sonho" e, mais recentemente, uniu-se a Tyler Perry e outros para produzir "Peeples", disse que filmes afro-americanos poderiam funcionar melhor fora dos EUA se os estúdios os divulgassem mais.
"Se os estúdios se disporem a gastar o dinheiro necessário para criar uma consciência dos atores e diretores negros, a cultura cinematográfica negra americana terá aceitação fora do país", disse. "Mais dinheiro para os estúdios e mais oportunidades para nós. É simples assim."
Os promotores de "12 Years a Slave" contam com o interesse suscitado pelo trabalho de Steve McQueen em seu país.
A Summit Entertainment montou uma rede de compradores do filme em países tão dispersos quanto Alemanha e Tailândia.
Brad Pitt, capaz de chamar mais atenção que cenas de brutalidade nas fazendas do sul dos EUA, pode ter que viajar muito pelo mundo afora no próximo ano. No Festival Internacional de Cinema de Toronto, no início de setembro, Pitt disse que está disposto a fazer o que for preciso.
"Se eu nunca mais participar de outro filme, terei participado deste", disse.
Por MICHAEL CIEPLY
Fonte: NYT: 12.11.13
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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Festival de Veneza 2013

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"A Ucrânia não é um bordel" (Kitty Green)