sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Oscar 2014: Melhor de 3 'Trapaça', correndo por fora, fica emparelhado com 'Gravidade' e '12 Anos de Escravidão' numa disputa acirrada pelo Oscar

Melhor de 3
'Trapaça', correndo por fora, fica emparelhado com 'Gravidade' e '12 Anos de Escravidão' numa disputa acirrada pelo Oscar
RODRIGO SALEMCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES
A briga esperada entre "Gravidade" e "12 Anos de Escravidão" pelo Oscar 2014 se confirmou com o anúncio dos indicados ao prêmio, na manhã de ontem, em Hollywood. Mas "Trapaça", também virou um concorrente sério à estatueta.
O longa de David O. Russell foi indicado em dez categorias, mesmo número de "Gravidade", de Alfonso Cuarón. "12 Anos de Escravidão", de Steve McQueen, teve nove indicações.
Os três disputarão com mais seis produções: "Capitão Phillips", de Paul Greengrass; "Ela", de Spike Jonze; "Nebraska", de Alexander Payne; "O Lobo de Wall Street", de Martin Scorsese; "Clube de Compras Dallas", de Jean-Marc Vallée; e "Philomena", de Stephen Frears. Os dois últimos foram as surpresas da lista.
Tom Hanks, considerado um forte concorrente como melhor ator por "Capitão Phillips", foi esquecido, enquanto o colega Barkhad Abdi papou uma indicação em ator coadjuvante --Robert Redford, outro veterano, também ficou de fora por "Até o Fim", de J.C. Chandor.
O documentário "Blackfish", sobre os maus tratos às baleias orcas no Sea World, não entrou na lista, que tem como favorito "O Ato de Matar", de Joshua Oppenheimer, sobre a reencenação de atos de extermínio na Indonésia.
"The Square", sobre a Primavera Árabe, rendeu ao Netflix a primeira menção no Oscar. Já Jennifer Lawrence, 23, se ganhar como atriz coadjuvante por "Trapaça", se tornará a atriz mais jovem a ganhar dois Oscar --ano passado, ela levou o de atriz principal por "O Lado Bom da Vida".
A comédia "Jackass Apresenta: Vovô Sem Vergonha" tem uma indicação (maquiagem), o mesmo número que recebeu o classudo "Walt nos Bastidores de Mary Poppins" (trilha sonora), com Emma Thompson --que acabou não indicada para melhor atriz. A categoria ficou livre para Cate Blanchett levar a indicação por "Blue Jasmine", de Woody Allen. A produção também concorre aos prêmios de atriz coadjuvante (Sally Hawkins) e roteiro original.
O anúncio serviu para algumas ressurreições. Martin Scorsese, que há dois meses se defende nos Estados Unidos por causa das cenas de nudez e referências a drogas de "O Lobo de Wall Street", foi indicado para melhor diretor, roteiro e filme --Leonardo DiCaprio e Jonah Hill entraram nas listas de ator e ator coadjuvante, respectivamente, pela produção.
Já "Nebraska", de Alexander Payne, veio por fora e, além de melhor filme, direção e fotografia, também rendeu indicações a Bruce Dern (ator) e June Squibb (atriz coadjuvante), dois veteranos esquecidos pela indústria.
Entre os filmes estrangeiros, "A Grande Beleza", de Paolo Sorrentino, deve levar o Oscar para a Itália, mesmo enfrentando o dinamarquês "A Caça" e "Omar", a segunda indicação de uma produção palestina na história.
ANÁLISE
Distinção entre três favoritos mina teorias sobre tendências de Hollywood
RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTON
As indicações ao Oscar são acompanhadas pela indústria do cinema como uma milionária corrida de cavalos.
Quem faz a melhor corrida pode conquistar uma bilheteria maior nos mercados internacionais onde os filmes ainda não estrearam. Além disso, cacifa diretores, atores e demais envolvidos a maiores cachês e poder em seus próximos projetos.
A corrida deste ano está embolada. Três filmes muito diferentes são os favoritos, o que impede que os críticos e especialistas inventem uma grande teoria sobre as tendências em Hollywood.
Com dez indicações, "Gravidade", que custou US$ 100 milhões e já arrecadou US$ 670 milhões em todo o mundo, é o único supersucesso entre os nove longas indicados a melhor filme. Mas as bolsas de apostas dizem que só vai levar prêmios técnicos e o de melhor diretor --para o mexicano Alfonso Cuarón-- e não o de melhor filme.
O prêmio deve ficar entre "Trapaça" (dez indicações) e "12 Anos de Escravidão" (nove). Este último é o menor entre os três (custou US$ 20 milhões, menos do que o vampiro Robert Pattinson ganha por filme da série "Crepúsculo") e arrecadou apenas US$ 40 milhões. Há dúvidas se fará boa carreira internacional O fato de o distribuidor italiano ter colocado no cartaz uma foto de Brad Pitt, que faz apenas uma pequena ponta no filme, diz muito.
Mas Hollywood vai assumir que filme realista de escravidão ainda é tabu e vai deixá-lo de lado, mesmo sendo considerado o melhor dos três?
"Trapaça", de David O. Russell, o mesmo diretor de "O Lado Bom da Vida", que custou US$ 40 milhões (e já arrecadou US$ 103 milhões só nos EUA), é o grande rival.
Sem o sofrimento (ou a importância) de "12 Anos", é uma diversão sexy e esperta com toques de Scorsese. Ou seja, grande entretenimento, que Hollywood deve há anos.
E premiar a ótima e sapeca Jennifer Lawrence, que está nesse filme, é garantia de rara espontaneidade na cerimônia (apesar da queniana Lupita Nyong'o, de "12 Anos", e da veterana June Squibb, 84, de "Nebraska", merecerem mais levar o Oscar).
Outros filmes muito bons se contentarão com prêmios técnicos ou com o reconhecimento ao elenco, como "Clube de Compras de Dallas", "Philomena", "Ela" e "Blue Jasmine". Em um ano especial, há muitos puro-sangue.
Fonte: Folha, 17.01.2014.