quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dez produtoras concentram 34% das verbas para filmes nacionais

Pesquisa da Folha aponta que 2% das empresas são as mais favorecidas por recursos públicos

Para a Agência Nacional do Cinema, números refletem capacidade de realização e de atração de investidores
DE SÃO PAULO *
Dez produtoras brasileiras concentram 34% do financiamento público de filmes nacionais. O número representa 2% das mais de 400 produtoras que captaram recursos no Brasil na série histórica entre 1995 a 2012.
Os dados da Ancine (Agência Nacional do Cinema), disponíveis no seu portal e tabelados pela Folha, também mostram uma concentração na arrecadação dos filmes.
Dez produtoras são responsáveis por 61% da renda arrecadada pelo cinema nacional e, dessas, seis também estão entre as que mais recebem fundos públicos.
Aspectos dos mecanismos de financiamento ajudam a entender esse fenômeno. Um deles é a classificação de produtoras feita pela Ancine. A agência permite às que fizeram mais filmes captar mais, mas o teto de recursos que elas podem usar ao mesmo tempo é de R$ 36 milhões.
Outra questão central é o fato de o principal método de financiamento utilizado pela Ancine ser o fomento indireto, via leis de incentivo: o governo permite a empresas privadas deduzir uma parcela de seu imposto de renda para ser investida em obras cinematográficas.
Nesses casos, a escolha dos projetos financiados é feita pelas empresas cujos recursos serão investidos. Em geral, grandes corporações não têm interesse em fomentar pequenas produções, preferindo se vincular a obras que lhes deem visibilidade.
Fábio Cesnik, advogado especializado em mídia e entretenimento, diz que "as empresas preferem investir em projetos que oferecem menos riscos para suas marcas". Ele conta que filmes com pouco apelo comercial buscam recursos em outras fontes.
Segundo Cesnik, cineastas podem financiar seus filmes, por exemplo, inscrevendo-os em editais públicos e captando pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), braço da Ancine alimentado por impostos da indústria audiovisual.
A Ancine respondeu, por meio de sua assessoria, que a posição no ranking é resultado da capacidade de realização das produtoras e das parcerias para atrair investidores.
A agência diz que "a série de 1995-2012 não reflete o atual momento do mercado audiovisual brasileiro, em que há um número maior de produtoras e oferta mais ampla de mecanismos de incentivo".

EM OUTROS PAÍSES

França
O investimento em 2009 foi equivalente a 15 vezes o brasileiro. O financiamento é feito via impostos sobre ingressos, canais de televisão e DVDs, e vai direto para o Centro Nacional de Cinematografia, que reinveste no setor audiovisual

Argentina
Há menos participação de empresas no processo de escolha. Parte do valor dos ingressos e DVDs vai para o Instituto Nacional de Cinema. Este prepara editais, que são a maior fonte de financiamento de filmes, em vez de leis de incentivo


Burocracia dificulta captação para filmes de independentes

Produtora de pequeno porte se diz prejudicada por não ter estrutura para gerir os pedidos de financiamentos
Conspiração Filmes, líder em renda no setor, mantém departamento especializado para levantar recursos
DE SÃO PAULO
Com base em dados da Ancine (Agência Nacional do Cinema), a Folha apurou que 34% dos recursos públicos destinados a filmes nacionais ficam nas mãos de dez produtoras --2% do total de empresas do setor no país.
A concentração, para Cavi Borges, dono da produtora independente Cavídeo, deve-se em grande parte à burocracia para conseguir obter financiamento.
Na avaliação de Borges, produtoras de pequeno porte como a sua não têm estrutura especializada para cuidar dos pedidos e, assim são prejudicadas na competição.
"A gente acaba não tendo fôlego", conta. Como formas alternativas, a Cavídeo usa crowdfunding (financiamento coletivo) e faz parcerias com canais de televisão.
A falta de recursos, para Borges, também dificulta que as produções cheguem ao circuito comercial competitivo.
Em contraste, a Conspiração Filmes --segunda produtora que mais captou recursos de 1995 a 2012 e líder em renda no período-- possui um departamento só para gerir a captação de seus recursos.
Eliana Soárez, diretora-executiva de cinema da empresa, diz que produtoras grandes também precisam captar, já que, segundo ela, a maior parte dos lucros dos seus filmes vão para o exibidor e o distribuidor. Folha, 31.07.2014.



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